Friday, June 23, 2006

Era uma dose de esquizofrenia, se faz favor...

O Vicêncio esteve (alegadamente) na guerra do Ultramar.
Homem vivido, carrancudo e lapidado pelo tempo, acredita que "Portugal é uma sombra do que já foi, e que todos estes camones, pretos e mariconços era tratá-los como ostras: era enfiar-lhes uma pérola no cu e amandá-los pó fundo do mar."
Gosta de ir à caça, beber cerveja, ver futebol e bater na mulher quando o Benfica perde (por esta ordem).


A Ritinha é uma querida.
Moça dada aos beijos e aos abraços e a toda uma palete de outros carinhos, gosta de rabiscar e desenhar, e acredita que o arco-íris é pintado a lápis de cor.
É um poço de ingenuidade num mar de felicidade.


O Marco é homossexual.
E é reprimido.
E é homossexual.
E gosta de iogurte.
Líquido.


A Bianca é transsexual.
Efectuou a última cirurgia há dois meses, sente-se plena pela primeira vez na vida, gosta de pintar os lábios de rosa catatónico (um rosa ainda mais forte do que o choque) e diz que o pai é a mulher que sempre quis ser.
Passa por mulher atraente para homens com dez ou mais dioptrias.


O Cláudio... é o Cláudio.
Gosta de besuntar o corpo com óleo Fula, de fazer marmelada com frascos de geleia (quanta ironia!), de cuspir para o ar e fugir à última da hora (83% de taxa de sucesso) e de se masturbar sempre que vê um carro vermelho.
A prova dada da disfuncionalidade como forma de estar na vida.


O Carlos (nome fictício) é um ex-agente da CIA.
Esteve envolvido na investigação do incidente J.F.K., sob o comando do próprio Cord Meyer.
Aduz ter testemunhado conversações e porfias e ter divisado indícios que em tudo apontavam para que a fatal ocorrência tenha sido cometido não por Lee Harvey Oswald, como todos pensam, mas por alguém de dentro da própria Casa Branca.
Assevera que tudo não passou de uma conspiração governamental, regida pelo Gabinete Executivo e sediada nas próprias fundações do governo Norte-Americano.
Ah, sim. E usa uma camisa de amor próprio e toma os comprimidos sempre às onze da noite em ponto.


O João é informático.
Ponto final.
Parágrafo.
... ...
Eu disse parágrafo.


Obrigado.
Bom, o Ricardo é trabalhador-estudante.
Mais trabalhador do que estudante.
Fomenta o sonho de um dia vir a ser não alguém, mas algo.
Algo de bem específico.
Escritor.
Crê que a verdadeira genialidade no papel já foi atingida, e que como tal essa meta está bem mais longínqua.
Para já, usa a caneta como fábrica de sentimentos.
Escreva o que escrever, se toca as pessoas, é missão cumprida.


Vicêncio, Ritinha, Marco, Bianca, Cláudio, Carlos, João e Ricardo.
O que é que estas "pessoas" têm em comum?
Todas elas habitam dentro de mim.

Sunday, June 18, 2006

escrever Direitos por linhas tortas...

Certas e determinadas coisas encontram-se, actualmente, socialmente viciadas.

Como é o caso do movimento pro-gay.
Neste momento, quem não manifesta uma postura activa na aceitação desse ramo da sexualidade pode correr o risco de ser considerado preconceituoso ou, pior, xenófobo.
Ser neutro nesse campo está out, está fora de questão.
Quanto a esta matéria, afirmo:
"Quero o meu direito à indiferença."

Outro bom exemplo é a globalização do hip-hop.
Nestes tempos que correm, é raro ligar a televisão num qualquer canal de música e não dar de caras com um video clip que é, se não na sua totalidade de natureza hip-hop, então um misto com a fusão de elementos desse género musical.
As grandes marcas já se renderam na publicidade a esta máquina social (atente-se no exemplo da música slogan da TMN), a produção de "novos talentos" irrompeu num boom típico de quantidade vs. qualidade, e as próprias pessoas que ouvem de forma assídua este tipo de música manifestam-no, na sua esmagadora maioria, nas suas roupas, na sua linguagem, na sua postura, no seu comportamento e na sua cultura.
Para onde quer que me vire, é difícil não me encontrar numa posição em que não exista uma sugestão ou uma ínfima alusão ao hip-hop.
E está claro e provado que objectos alvos de produção em massa estão condenados a cair na mediocridade, embora sejam vendidos ao público como algo de inegavelmente bom.
Quanto a isto, alego:
"Quero o meu direito à diversidade."

De uma forma nefasta, incluo também na lista o tabaco, essa praga disfarçada de vício privado.
É já um hábito social a realização das tão famigeradas "pausas para o cigarro".
Um vício degradante tornou-se a desculpa plausível para socializar e conviver um pouco com outras pessoas.
Aposto que se em vez da "pausa para o cigarro" eu convidasse outra pessoa para uma "pausa para leitinho e biscoitos", essa pessoa olharia para mim como se o único fundamento para o que tinha acabado de dizer fosse a gozação.
E porquê? Porque não seria algo já socialmente estabelecido.
Outro reparo: talvez não seja a coisa mais fácil de se perceber, mas alguns dos elementos fumadores do nosso mundo (e, meu Deus, que são tantos!) deveriam tomar nota de que quando puxam de um cigarro e o acendem, a nuvem de fumo a que dão origem não desaparece como que por artes mágicas. E também não se mantém suspensa sobre a pessoa se esta estiver em movimento.
Se em andamento, o fumo irá deixando o seu rasto. À semelhança de um comboio a vapor.
Isso é incómodo para quem circula atrás da pessoa fumadora.
Mas já é tão normal e banal a sucessão de situações dessas que já se tornou socialmente aceite.
Enfim, puxar de um cigarro num café ou numa esplanada já é tão natural como beber um copo de água.
É trivial. E igualmente nocivo. E injusto para a saúde de quem não fuma. Mas é socialmente aceite.
Por isso, proclamo:
"Quero os direitos sobre a minha própria morte."

E a lista continua:
desde status comportamentais a regras de boa etiqueta, desde televisão genérica a marketing via multimédia, desde jet set induzido a fenómenos de popularidade, são inúmeros (demasiados!) os casos de corrupção social que engrossam o leque de factos adulterados que fazem girar o Mundo de uma forma tão descontrolada.
E é com essas falsas morais, demagogias inertes na sua originalidade e bom gosto e códigos de ética desprovidos de bom senso que se vão criando dinâmicas que geram leis nos círculos sociais e que, mais do que lesar a afirmação da individualidade de cada um, restringe o Direito à Liberdade colectiva.