Era uma dose de esquizofrenia, se faz favor...
O Vicêncio esteve (alegadamente) na guerra do Ultramar.
Homem vivido, carrancudo e lapidado pelo tempo, acredita que "Portugal é uma sombra do que já foi, e que todos estes camones, pretos e mariconços era tratá-los como ostras: era enfiar-lhes uma pérola no cu e amandá-los pó fundo do mar."
Gosta de ir à caça, beber cerveja, ver futebol e bater na mulher quando o Benfica perde (por esta ordem).
A Ritinha é uma querida.
Moça dada aos beijos e aos abraços e a toda uma palete de outros carinhos, gosta de rabiscar e desenhar, e acredita que o arco-íris é pintado a lápis de cor.
É um poço de ingenuidade num mar de felicidade.
O Marco é homossexual.
E é reprimido.
E é homossexual.
E gosta de iogurte.
Líquido.
A Bianca é transsexual.
Efectuou a última cirurgia há dois meses, sente-se plena pela primeira vez na vida, gosta de pintar os lábios de rosa catatónico (um rosa ainda mais forte do que o choque) e diz que o pai é a mulher que sempre quis ser.
Passa por mulher atraente para homens com dez ou mais dioptrias.
O Cláudio... é o Cláudio.
Gosta de besuntar o corpo com óleo Fula, de fazer marmelada com frascos de geleia (quanta ironia!), de cuspir para o ar e fugir à última da hora (83% de taxa de sucesso) e de se masturbar sempre que vê um carro vermelho.
A prova dada da disfuncionalidade como forma de estar na vida.
O Carlos (nome fictício) é um ex-agente da CIA.
Esteve envolvido na investigação do incidente J.F.K., sob o comando do próprio Cord Meyer.
Aduz ter testemunhado conversações e porfias e ter divisado indícios que em tudo apontavam para que a fatal ocorrência tenha sido cometido não por Lee Harvey Oswald, como todos pensam, mas por alguém de dentro da própria Casa Branca.
Assevera que tudo não passou de uma conspiração governamental, regida pelo Gabinete Executivo e sediada nas próprias fundações do governo Norte-Americano.
Ah, sim. E usa uma camisa de amor próprio e toma os comprimidos sempre às onze da noite em ponto.
O João é informático.
Ponto final.
Parágrafo.
... ...
Eu disse parágrafo.
Obrigado.
Bom, o Ricardo é trabalhador-estudante.
Mais trabalhador do que estudante.
Fomenta o sonho de um dia vir a ser não alguém, mas algo.
Algo de bem específico.
Escritor.
Crê que a verdadeira genialidade no papel já foi atingida, e que como tal essa meta está bem mais longínqua.
Para já, usa a caneta como fábrica de sentimentos.
Escreva o que escrever, se toca as pessoas, é missão cumprida.
Vicêncio, Ritinha, Marco, Bianca, Cláudio, Carlos, João e Ricardo.
O que é que estas "pessoas" têm em comum?
Todas elas habitam dentro de mim.