Começo esta minha - talvez tardia - contibuição com um esclarecimento oficial: aquilo que vou escrever aqui não é uma crítica a ninguem em especial ou um apontar de dedo exclusivo a alguém ou até a um conjunto de pessoas em particular, se alguma coisa, podem considerar as minhas próximas afirmações como uma auto-crítica e uma crtítica (será que é mesmo uma crítica para começar?!) a um grupo mais vasto (Sociedade? Humanidade?)
Venho aqui defender uma ideia que inicialmente não me pertence, mas que após (alguma) cuidada "meditação" decidi tomar como minha para - também - defender, venho aqui negar o dogma de que Nós (no sentido muito geral) somos seres que tomam decisões de forma
utilitarista!
Primeiro: o que é - perguntam voçês - o tomar decisões de forma utilitarista?
...
(Vá perguntem alto... não se importem se estão num sitio público ou em casa, sosinhos ou acompanhados... não estraguem a coisa... vá digam alto e bom som:
"O que é o tomar decisões de forma utilitarista?")
Bem isto parte de uma teoria social - não originalmente chamada de utilitarismo - que diz que as pessoas quando tem de tomar uma decisão avaliam racionalmente os vários aspectos da sua decisão e escolhem baseados numa "função" mental de maximização de utilidade, por exemplo no super mercado quando queremos comprar - sei lá - papel higiénico a cena de avaliarmos a razão entre o número de rolos e o preço do pack e escolhes aquele que torna cada rolo mais económico, aqui maximizamos a utilidade através de uma função que minimiza o custo da unidade.
Meus caros tenhovos a dizer: isto não é verdade...
As pessoas não criam tabelas mentais (ou em papel ou em excel que seja...) com os vários factores da sua decisões, não e repito NÃO atribuem valores de utilidade a cada uma das opções da sua decisão num conjunto variado de parametros, e não atribuem pesos a cada um desses parametros para no final calcularem um valor de UTILIDADE para no final escolherem a opção que maximiza este valor.
E o motivo para as pessoas não fazerem isto é simples... as pessoas - especialmente de um ponto de vista social - não são
"máquinas lógicas" nós podemos até racionalizar todo o nosso processo de escolha, mas a verdade é que não a seguimos a lógica até ao final, mesmo no caso em que nos convencemos (e que bem que nós nos conseguimos enganar a nós próprios) que o fazemos, na realidade existem coisas que fazemos inconscientemente para alterar e retorcer a lógica de tal forma que - subitamente ou nem por isso - aquilo que nós queremos de facto - de forma
totalmente irracional é aquilo que - aos nossos olhos - nos parece a decisão "mais lógica".
E agora eu poderia dar um exemplo, mas opto por não o fazer, digo no entanto que eu, em alguns processos de retrospeção já encontrei inúmeros casos em que eu mesmo retorci todas as regras da lógica para me sentir confortável por tomar uma decisão que sabia (inicialmente pelo menos) ser completamente "idiota" do ponto de vista lógico. E como aposto que já todos passaram por esta situação, vou vos convidar a todos - em vez de vos dar um exemplo... porque afinal "dar" assim sem mais nem menos não é tão lógico como isso - em pensarem (e encontrarem) situações em que voçês próprios o fizeram, em que manipularam a lógica por forma a se convencerem de que uma decisão vossa apesar de puramente ilógica ser "o único caminho lógico a tomar".
E finalmente levanto uma questão para a qual não tenho - de forma imediata - uma resposta, pois até em relação a enunciação da questão eu tenho dúvidas:
Se por vezes fazemos estes processos de "ilogicação" das desições, de ignorar a vertente utilitarista das nossas decisões, para podermos de certa forma tentar maximizar (contra as probabilidades) a nossa medida de felicidade (??)... (que admito aqui sem demonstração que é bastante possivel que façamos) será que este processo de racinalização ilógica da decisão não pode ser também usado para nos sabotarmos a nós próprios e de uma forma macabra (e completamente irracional - ou não) evitarmos caminhos que nos podem levar a ser mais felizes? ou caminhos que podem ser simplesmente melhores para alcançarmos objectivos que acreditamos ter??
Será que ganhamos realmente alguma coisa em não seguirmos o dogma do utilitarismo?!
Nota: a primeira vez que contactei com esta questão foi através do Professor Luis Antunes, na sua cadeira de Simulação Social na FCUL, aqui fica uma especie de homenagem à pessoa que me fez ponderar esta questão.