Thursday, September 07, 2006

Tentando desmontar um dogma

Começo esta minha - talvez tardia - contibuição com um esclarecimento oficial: aquilo que vou escrever aqui não é uma crítica a ninguem em especial ou um apontar de dedo exclusivo a alguém ou até a um conjunto de pessoas em particular, se alguma coisa, podem considerar as minhas próximas afirmações como uma auto-crítica e uma crtítica (será que é mesmo uma crítica para começar?!) a um grupo mais vasto (Sociedade? Humanidade?)

Venho aqui defender uma ideia que inicialmente não me pertence, mas que após (alguma) cuidada "meditação" decidi tomar como minha para - também - defender, venho aqui negar o dogma de que Nós (no sentido muito geral) somos seres que tomam decisões de forma utilitarista!

Primeiro: o que é - perguntam voçês - o tomar decisões de forma utilitarista?

...
(Vá perguntem alto... não se importem se estão num sitio público ou em casa, sosinhos ou acompanhados... não estraguem a coisa... vá digam alto e bom som: "O que é o tomar decisões de forma utilitarista?")

Bem isto parte de uma teoria social - não originalmente chamada de utilitarismo - que diz que as pessoas quando tem de tomar uma decisão avaliam racionalmente os vários aspectos da sua decisão e escolhem baseados numa "função" mental de maximização de utilidade, por exemplo no super mercado quando queremos comprar - sei lá - papel higiénico a cena de avaliarmos a razão entre o número de rolos e o preço do pack e escolhes aquele que torna cada rolo mais económico, aqui maximizamos a utilidade através de uma função que minimiza o custo da unidade.

Meus caros tenhovos a dizer: isto não é verdade...

As pessoas não criam tabelas mentais (ou em papel ou em excel que seja...) com os vários factores da sua decisões, não e repito NÃO atribuem valores de utilidade a cada uma das opções da sua decisão num conjunto variado de parametros, e não atribuem pesos a cada um desses parametros para no final calcularem um valor de UTILIDADE para no final escolherem a opção que maximiza este valor.

E o motivo para as pessoas não fazerem isto é simples... as pessoas - especialmente de um ponto de vista social - não são "máquinas lógicas" nós podemos até racionalizar todo o nosso processo de escolha, mas a verdade é que não a seguimos a lógica até ao final, mesmo no caso em que nos convencemos (e que bem que nós nos conseguimos enganar a nós próprios) que o fazemos, na realidade existem coisas que fazemos inconscientemente para alterar e retorcer a lógica de tal forma que - subitamente ou nem por isso - aquilo que nós queremos de facto - de forma totalmente irracional é aquilo que - aos nossos olhos - nos parece a decisão "mais lógica".

E agora eu poderia dar um exemplo, mas opto por não o fazer, digo no entanto que eu, em alguns processos de retrospeção já encontrei inúmeros casos em que eu mesmo retorci todas as regras da lógica para me sentir confortável por tomar uma decisão que sabia (inicialmente pelo menos) ser completamente "idiota" do ponto de vista lógico. E como aposto que já todos passaram por esta situação, vou vos convidar a todos - em vez de vos dar um exemplo... porque afinal "dar" assim sem mais nem menos não é tão lógico como isso - em pensarem (e encontrarem) situações em que voçês próprios o fizeram, em que manipularam a lógica por forma a se convencerem de que uma decisão vossa apesar de puramente ilógica ser "o único caminho lógico a tomar".

E finalmente levanto uma questão para a qual não tenho - de forma imediata - uma resposta, pois até em relação a enunciação da questão eu tenho dúvidas:
Se por vezes fazemos estes processos de "ilogicação" das desições, de ignorar a vertente utilitarista das nossas decisões, para podermos de certa forma tentar maximizar (contra as probabilidades) a nossa medida de felicidade (??)... (que admito aqui sem demonstração que é bastante possivel que façamos) será que este processo de racinalização ilógica da decisão não pode ser também usado para nos sabotarmos a nós próprios e de uma forma macabra (e completamente irracional - ou não) evitarmos caminhos que nos podem levar a ser mais felizes? ou caminhos que podem ser simplesmente melhores para alcançarmos objectivos que acreditamos ter??

Será que ganhamos realmente alguma coisa em não seguirmos o dogma do utilitarismo?!

Nota: a primeira vez que contactei com esta questão foi através do Professor Luis Antunes, na sua cadeira de Simulação Social na FCUL, aqui fica uma especie de homenagem à pessoa que me fez ponderar esta questão.

2 Comments:

At Fri Sep 08, 10:46:00 AM 2006, Blogger Very Unlucky Guy said...

Ok, vou morder o isco! Quer isto dizer, vou tentar responder....
Do meu ponto de vista (claro que meramente pessoal) tenho que confessar que tens razão e que dizer-te que estás completamente errado. Contraditório? Talvez não...
Tudo depende do valor das palavras. O que quer dizer verdadeiramente "utilitarista"? Penso que o melhor modo de definir a coisa é usando exactamente a tua definição mas menos embelezada, mais sistemática. Trata-se simplesmente de escolher o percurso que maximiza a função utilidade. Isto é um problema típico de programação linear e, como tal, conhecem-se algoritmos para obter respostas parciais (ou, às vezes, únícas e totais...). O problema consiste basicamente em saber qual a função utilidade. Aqui é que reside o fulcro da contradição. As pessoas tomam realmente decisões baseadas em optimizações. Só que o que maximizam é que varia muito com a pessoa, o momento, enfim, uma miríade de factores.
As pessoas não criam tabelas mentais geralmente por preguiça, mas tentam arranjar algoritmos pessoais que lhes permitam obter uma solução que desejam que seja próxima do óptimo (raramente atingível) sem muito esforço. A função que maximizam é que não é a mesma hoje ou amanhã (ou até daqui a 5 minutos...). Tenta analisar os casos que referes (no teu passado) e verifica se não é essse realmente o problema.
Un indivíduo aldraba-se a si mesmo mas só na elaboração da função a maximizar que utiiliza nesse momento, o resto é só preguiça de pensar (o que por sua vez corresponde a maximizar a função "pensar o mínimo possível").
Em suma, não posso estar de acordo com a formulação do problema nos moldes em que a expuseste mas estou amplamente de acordo com as conclusões. A meu ver, as decisões são tomadas (maioritariamente) com o objectivo de maximizar alguma função, mas as pessoas sistematicamente auto enganam-se na formulação dos seus objectivos (alguns deles são meritórios mas muitos não...).

 
At Sun Sep 10, 08:27:00 PM 2006, Blogger grassa said...

O intelecto, a moral, a ética, a acção que desencadeou, a consequência aparentemente mais provável, o possível lucro, o sentimento na altura, o corrente bem-estar social, a opinião de terceiros, o tempo, o dinheiro, o egoísmo, o interesse, a motivação, a preguiça e, acima de tudo, a Natureza Humana.

Estas são apenas algumas das considerações a ter aquando da tentativa de concepção de uma decisão utilitarista, um grão no deserto de incerteza que é a planificação de "a melhor escolha".

Defendo que o ser humano é um ser mais sentimental do que racional, pelo que apoiar a existência de uma função de essência utilitarista (pelo menos, o utilitarismo nos moldes apresentados) seria negar aquilo em que acredito.

A doutrina do utilitarismo é uma boa ideia, mas não passa disso mesmo... de uma ideia.

 

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