O João perguntou ao Leitão quanto Leitão o João tem, e o Leitão respondeu ao João chamando-lhe inútil
Estou chateado.
E estou chateado derivado de dois motivos.
O primeiro, bom, não me lembro.
O segundo é que as pessoas às vezes acusam-me de me esquecer frequentemente das coisas e de reagir de forma infantil a uma crítica.
Nada tenho a dizer a essas pessoas, a não ser que elas cheiram mal.
Aparte feito, vamos às dissertações.
Preparados?
Espero que sim, pois eu vou começar a desbaratinar (é assim um desbaratar mas com mais tino).
Dissertação número 1: O dinheiro e a felicidade.
O dinheiro vale o que vale, e não tem outro valor senão esse.
Já coisas como o amor e a amizade têm um valor incalculável, isto é, cinquenta cêntimos (o preço médio de um café).
E há quem diga que o dinheiro não traz felicidade.
Eu digo: depende da maquia.
Por exemplo, se me derem um cêntimo, o mais provável é eu dizer "Obrigado" à pessoa com aquele tom de quem está a chamar palhaço a alguém. Não ficarei feliz, ficarei algo próximo do 3,1416 x urso (ou, em linguagem menos matemática, piurso).
Se, ao invés, me ofertarem com vários maços de notas de quinhentos euros, eu não ficarei feliz, ficarei insano.
Enfim, o dinheiro traz felicidade se for atribuído - como em tudo na vida - de forma moderada (atentem bem nesta última sentença, pois daqui para a frente não será prescrito mais nada que tenha algum sentido e/ou profundidade; será, portanto, assim como que o equivalente a tirar um curso de Biologia).
Dissertação número 2: Tempo e dedicação.
Um dos grandes flagelos (eu disse flagelos? Perdão, eu queria dizer pudins. Leia-se de novo: "Um dos grandes pudins (...)") do nosso quotidiano profissional e social - e primeiro obstáculo à construção e criação de possíveis obras de valor maior - é o facto de, às vezes, sentirmos que estamos a perder tempo quando estamos dedicados (ou a tentar ser dedicados) para com algo.
Às vezes, parece que aquele algo não é bem necessário ou vital para outro algo, pelo que sentimos que o tempo que nele depositamos não está a ser bem gasto, o que leva a que a atenção e o empenho nesse algo depositados não sejam máximos ou, no limiar, de elevado grau.
O truque é perdermos tempo sem realmente termos a noção de que o estamos a perder, iludindo-nos com o facto de que esse tempo está a ser aplicado à ordem de não termos a noção de que esse tempo está a ser, de forma corrente, tempo a passar.
Fui claro? Claro... que não.
De qualquer forma, foi assim que consegui acabar a minha réplica à escala da Torre de Pisa, feita inteiramente com fósforos e palitos usados pelos senhores de típica nacionalidade portuguesa da tasca já aqui ao lado da minha casa, a taberna do sor Zé do Pipo.
Uma réplica exacta, salvo a mancha nhanhenta e de aspecto duvidoso num dos andares que, dizem as más línguas, mais parece fruto de um espirro meu.
E só porque, aquando da construção da Torre, me encontrava expectoralmente constipado.
Calúnias.
Deviam ter vergonha.
Dissertação número 3: O mito das viagens descansadas no Metro.
No primeiro dia de Agosto deste ano saí na estação de metro do Marquês e não fui "convidado" a dar uma única esmola nem a subscrever nenhum contrato com a Netcabo brasileira, a Netchicabo.
Ora, com o surto de cegueira e com a sede de informação alheia que assolam toda essa área subterrânea que é o Metro, como se explica que a minha assinatura, os meus dados pessoais e as minhas moedas não tenham constado de fichas de recolha de informação e de pratinhos de plástico da Lidl (sim, pasmem-se as alminhas, a Lidl é uma entidade feminina)?
Será que todos esses pedintes e diletantes também tiram férias?
Será que existe algum sindicato que defende que até mesmo estes têm direito a dois dias de férias por mês?
Seja como for, acho mal.
É que uma pessoa que use este transporte público já não tem, assim, desculpa plausível para chegar atrasado aos compromissos.
- "Então, Ricardo Jorge, isto são horas de chegar?"
- "Pois, sabes como é, vim de Metro. Desculpa o atraso, mas olha, pelo menos consegui 33 subscrições ao Círculo de Leitores, 12 candidaturas para um curso de Informática daqueles grátis que só se pagam no início, 9 DVDs pirata, 4 revistas Cais e duas mangas por apenas 5 euros. Uma verdadeira pechincha!"
Dissertação número 4: O generalizado desinteresse pela política.
Diz-se que os portugueses são desinteressados por política.
Momentos como o seguinte são provas dadas disso mesmo:
- "Minha senhora, no referendo para o aborto, vai votar como?"
- "Eu vou votar na CDU!"
- "Mas, minha senhora, é um voto de sim ou não."
- "Ah... então e a CDU está pelo quê?"
- "Pelo sim."
- "Ah, então eu vou votar sim!"
A política em Portugal toma, quanto mais não seja, formas de clubismo.
Penso que se poderia pegar neste conceito para espicaçar o interesse das massas pela política.
A título de exemplo: em vez daqueles discursos chatos na Assembleia, poder-se-ia pegar em dois partidos de cada assentada, colocá-los de calção e botim de piton, separar onze para cada lado, pôr o resto na bancada de suplentes e atirar uma bola lá para o meio.
Isto atrairia a atenção do português mediano (isto é, 98% da população no geral, se incluirmos as regiões autónomas da Madeira, dos Açores e do Alentejo).
E as eleições teriam, à sua medida, as equivalências das competições futebolísticas.
As Autárquicas seriam assim como que uma Taça de Portugal, e as Legislativas seriam como que a Primeira Liga.
Já as Presidenciais seriam como que a eleição da FIFA para o melhor jogador do Mundo.
Aposto que se assim fosse, não demoraria nem uma semana até que um grupo de gatos pingados aparecesse a cantarolar uma composição que desse pelo nome de "Glorioso PSD".
E por agora fechamos a loja.
Um bem haja a todos vós que leram tudo até ao fim sem dizerem uma única vez a palavra "frondoso".
Resta-me as despedidas, deixando só aqui o apelo ao proprietário do veículo com a matrícula 13-25-JL que retire este do espaço que no momento ocupa, uma vez que o mesmo se encontra estacionado em segunda fila.