Zidane e a Sociedade Francesa
Tardia mas inevitavelmente, tinha de escrever sobre esta efeméride, uma vez que não é de todo integrante do quotidiano dos futebolistas que arrumam as botas andarem à cabeçada no último jogo da sua carreira.
Nos dias que se sucederam ao acto, confesso que esperava ansiosamente por uma justificação de Zinedine Zidane, a qual chegou por intermédio de uma entrevista concedida por Zizou ao Canal+:
Zidane l' interview (Zizou s' explique) http://www.zidane.fr/homepage.html
O alvo da cabeçada - celui qui provoque, ou seja, Marco Materazzi - disse que lhe chamou um nome mas não insultou a mãe nem a irmã, como Zidane disse na entrevista acima. Por esta altura surge a notícia difundida pela TSF que a FIFA estava a ponderar retirar o título de Campeão do Mundo à Itália. Tal notícia gerou-me completa incredulidade e, a acontecer, seria a explosão de uma bomba atómica na credibilidade da FIFA e, por consequência, nos campeonatos do mundo de futebol, por castigar um provocador e premiar um agressor; mais ninguém quereria assistir a tal competição, seguramente. Verdade ou não, o que é facto é que Joseph Blatter, presidente da FIFA, não esteve presente aquando da entrega da taça do mundo à selecção italiana no relvado e ainda não tenho informação do motivo da sua ausência: algo estava errado. No fim, Zizou foi considerado o melhor jogador da competição. Deve ter sido por este motivo que o Presidente da República Francesa Jacques Chirac felicitou Zidane em Paris: Zizou considerado claramente o exemplo de capacidade técnica em campo e dotes cefálicos capazes de projectar um adversário, importantes no decurso de uma partida; nunca se sabe quando nos provocam no relvado. Para dar uma ideia mais profunda do nível cultural e civilizacional francês, o mesmo Chirac, frente ao staff do Palácio Elíseo, diz:
"Sei que você viveu o momento mais intenso e mais duro da sua carreira. Mas quero dizer que, apesar disso, você tem a admiração e a afeição de toda a nação, assim como o meu respeito também"
No âmbito do dia nacional francês (dia 14), Chirac foi entrevistado e sobre a atitude de Zidane disse:
"Seu gesto não é aceitável, isso é evidente, e ele disse isso com muito valor, claramente (...). Não se pode aceitar, mas se houve uma ofensa enorme (...) é possível compreender"
No entanto, assumiu que não estava a ser muito objectivo porque sente "muita admiração, estima e respeito" por Zidane, e isso "provavelmente" influi "um pouco". Quando foi questionado por um dos entrevistadores se sentia a necessidade de dar "cabeçadas de vez em quando", Chirac respondeu com uma gargalhada: "Tento conter-me", disse.
Se fosse um magrebino nos Campos Elíseos que desse uma cabeçada a um francês de origem por este lhe ter dito "A tua mãe sabe a febra grelhada e a tua irmã é a cereja no topo do bolo", queria ver se Chirac acharia tal cabeçada uma atitude razoável: provavelmente o magrebino dissiparia a restante raiva pelo francês no interior de uma cela.
João Pinto, no Mundial de 2002, socou o árbitro do último jogo da participação portuguesa de então e não foi aclamado como Zidane quando chegado ao seu país. Porém, João Pinto também não foi considerado o melhor jogador do Mundial de 2002, sabe-se lá se o povo português não se comportaria da mesma maneira que os franceses se comportaram desta vez... provavelmente sim.
Contudo, é notório que Portugal nada tem a aprender a nível cultural com aquele país com fracção maior de licenciados, como os franceses tanto quiseram realçar. O exemplo gravíssimo de Chirac somado à relação com os imigrantes comprovam-no.
Para terminar, anuncio, para quem não sabe, aquele que se arrisca a ser um dos maiores êxitos da música deste Verão, que é basicamente uma sátira elaborada por franceses à cabeçada de Zidane: http://www.videoenlaces.com/videos_online/Humor/130706-Coup-le-Boule/.
Disfrutem.
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