É oficial: não tenho tema para hoje.
Já dei mais de duas, menos de quatro e um número igual a três de voltas à cabeça numa tentativa quase desenfreada de encontrar um tema.
Em vão.
Encontrei vários tópicos, alguns assuntos e - coisa rara! - um excelso ponto de abordagem, mas temas, nada.
E depois bateu-me.
Não ter tema é, já de si, um tema (NOTA DO AUTOR: aconselha-se vividamente os leitores a tomarem esta afirmação do ponto de vista esotérico da coisa ao invés do filosófico, pois pela via esotérica "
ah e tal que até que é bonita a afirmação, quase poética e coiso", enquanto que pela via filosófica "
então mas espera lá: se não ter tema é, já de si, um tema, então tem-se sempre um tema, pelo que afirmar que não se tem tema é uma impossibilidade, uma impossibilidade impossível, pois não pode existir algo sem a sua contra-existência, logo deveria ser possível afirmar que não se tem temas de quando a quando, só que isso é possível e impossível ao mesmo tempo, ai que já me dói a cabeça, já pareço o Kafka sob o efeito de anabolisantes mais ó camandro").
E a parte fantástica de se ter um tema que de tema não tem nada é poder-se falar de qualquer coisa.
Qualquer coisa mesmo.
Sem restrição de espécie alguma.
Herpes labial.
Mulheres.
Centros de mesa.
Mulheres com herpes labial e que compõem centros de mesa.
Alhos-porros.
Guaxinins.
Aqueles rebuçados com recheio e que têm o desenho da fruta a que corresponde o sabor do recheio no involucrozinho de plástico ou celofane ou que raio é aquela bosta.
Temas.
E eu temo que abeirar a temática do tema num texto cujo tema é, precisamente, não ter tema, possa complicar o frágil juízo da pessoa que, ou muito me engano, ou é a pessoa de maior importância para mim: eu.
Parece-me pouco saudável.
E é por isso mesmo, pela minha saudinha, que vou antes aqui grafar as generalidades que o jornal Global, um dos jornais de distribuição gratuita no Metro, ostenta na sua capa.
Ora deixa cá ver.
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Hum, hum.
Consta aqui que a Paris Hilton foi vaiada num festival de atribuição de prémios de terror em Los Angeles.
Fantástico.
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Olha, e diz aqui que o Vladimir Putin, que se encontra em Portugal na sequência da cimeira UE / Rússia, vai ter tamboril como prato principal para o almoço.
E isto em Mafra.
Pois é, pois é.
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Ui, e não é que o cemitério de Odivelas só tem três sepulturas?
Isto é que é sinónimo de descalabro.
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Eu disse que não tinha tema para hoje.